É difícil classificar os senadores que votaram por essa aberração na comissão. Seriam entreguistas da soberania nacional? Seriam negocistas cooptados pelo dinheiro inglês? Ou seriam apenas ignorantes, distraídos, incapazes de compreender o processo histórico que vivemos na era Temer, o Misshell?
Do site do Senador Roberto Requião
Uma potência estrangeira, a Inglaterra, se achou no direito de
participar diretamente de uma sessão da Comissão Mista da Câmara e do
Senado Federal para estabelecer os principais tópicos da medida
provisória que visa a regular a exploração do pré-sal no país. Não só
participou como mandou na votação. E a fonte da notícia dessa aberração
não é nenhum oposicionista, mas o próprio The Guardian, principal
jornal da Grã-Bretanha.
Segundo esse jornal, citado pelo blog Brasil 247, o governo inglês
fez lobby, com sucesso, junto ao governo golpista de Temer, apelidado de
Misshell, para mudar as regras de exploração do pré-sal em favor das
inglesas Shell, BP e Premier Oil. O operador externo do lobby foi o
ministro do Comércio inglês, Greg Hands, que veio ao Rio de Janeiro onde
se reuniu com o operador interno, Paulo Pedrosa, secretário do
Ministério de Minas e Energia.
Pedrosa disse que estava pressionando seus homólogos do governo
brasileiro sobre as questões suscitadas pelos ingleses, de acordo com um
telegrama diplomático britânico obtido pelo Greenpeace. Essa
organização acusou o Governo britânico de “agir como braço de pressão da
indústria de combustíveis fósseis”, a despeito de compromissos
assumidos com metas de controle ambiental defendidos em Bonn.
Como resultado, a Inglaterra conseguiu que o governo brasileiro
eliminasse exigências de compra de conteúdo local nos investimentos no
pré-sal, reduzisse exigências ambientais e isentasse as grandes
multinacionais de pagamento de impostos. Um representante da Shell
comandou pessoalmente o lobby na comissão, sendo identificado e
denunciado, na hora, pelo senador Lindberg Farias.
O ministro inglês esteve no Brasil em março e não se limitou a ir ao
Rio de Janeiro. Esteve também em São Paulo e Belo Horizonte. Seu foco
era justamente o de ajudar empresas britânicas a ganharem negócios de
petróleo e água no Brasil. Sabe-se que, na conversa com Paulo Pedrosa,
levantou “diretamente” as preocupações das empresas petrolíferas Shell,
BP e Premier Oil britânicas sobre tributação e licença ambiental.
A pressão para flexibilizar regras de proteção na área crítica
ambiental suscitou interesse do Greenpeace, que questionou as empresas e
o Ministério do Comércio. Os esclarecimentos foram vagos e
escamoteados. Curiosamente, os britânicos tem posição aparentemente
ativa nas discussões da ONU sobre o controle de poluição, o que pode ter
suscitado a reportagem do The Guardian.
É extravagante que comissão do Senado se sujeite a pressões
internacionais nesses três campos vitais para o futuro do país. Conteúdo
local, tributação justa e defesa ambiental são questões ligadas à
soberania nacional. É fundamental que o Ministério das Minas e Energia
seja questionado sobre mais essa medida de entrega a estrangeiros de
bens que deveriam ser protegidos pela soberania.
As estimativas de isenção tributária para os contratos do pré-sal já
negociados se elevam a cerca de 1 trilhão de dólares. Abrir mão desses
recursos é um crime contra as gerações atuais e futuras. Eliminar
exigências de conteúdo local é abrir mão da geração de emprego nos
setores industriais de maior salário e maior geração de tecnologia. Por
fim, a redução das regras ambientais significa simplesmente permitir que
as grandes petroleiras poluam descaradamente o nosso mar e nosso
território enquanto levam para suas matrizes os produtos limpos.
É difícil classificar os senadores que votaram por essa aberração na
comissão. Seriam entreguistas da soberania nacional? Seriam negocistas
cooptados pelo dinheiro inglês? Ou seriam apenas ignorantes, distraídos,
incapazes de compreender o processo histórico que vivemos na era Temer,
o Misshell? Não consigo me inclinar por nenhuma dessas classificações.
Mas ainda tenho a expectativa de que, na votação do Senado, uma maioria
se coloque a favor do Brasil, sobretudo depois que veio a público essa
inacreditável ingerência estrangeira em nosso processo legislativo.
Assista o Vídeo:
Lobby Inglês no Senado mudou as regras do pré-sal. Teria o Brasil voltado a época que era dominado pela Inglaterra?
Assista o Vídeo:
Lobby Inglês no Senado mudou as regras do pré-sal. Teria o Brasil voltado a época que era dominado pela Inglaterra?