Protagonista de de esquemas ilícitos há décadas, Geddel é caso de impunidade mais assombroso de nosso tempo. Depois de tudo o que o ex-ministro fez para ser agora definido como "criminoso em série", é até afrontoso que sua prisão seja por uma dúzia de telefonemas quase ingênuos
Pragmatismo Político
Por Janio de Freitas
Depois de tudo o que Geddel Vieira Lima fez para ser agora definido como “criminoso em série“, é até afrontoso com o próprio Ministério Público, com a Polícia Federal e a Justiça que sua prisão seja por uma dúzia de telefonemas quase ingênuos.
Geddel
é o caso de impunidade mais assombroso e de imunidade mais inexplicada
na política do nosso tempo. Tem um quarto de século desde que se fez
notado em Brasília, como integrante dos “Anões do Orçamento“,
sete deputados que adulteravam em seu proveito financeiro o orçamento
do país, e em 1993 afinal caíram em uma CPI. Exceto Geddel.
A impunidade dada então ao jovem peemedebista expõe
bem o compadrio inescrupuloso que rege grande parte das relações e das
decisões parlamentares. E está nas raízes do tal “presidencialismo de coalizão“,
eufemismo acadêmico para fantasiar o sistema de venda, compra e
chantagem que dá ou retira apoio aos governos nas Casas do Congresso.
Atolado nas fraudes, Geddel, com sucessivas ataques de desespero e choro, implorou ao líder do PFL Luiz Eduardo Magalhães, seu adversário na Bahia,
que o salvasse da cassação. Nas últimas horas anteriores ao relatório
do tumultuoso deputado Roberto Magalhães, Luiz Eduardo riscou o nome de
Geddel na relação de cassados.
Abusado, ameaçador, perverso, Geddel pôde seguir sua vocação, e cresceu nos governos de Fernando Henrique, Lula e Dilma. Com Temer, seu “amigo fraterno“, chegou ao Planalto. Sempre envolvido em casos que não levavam a consequências legais. Antonio Carlos Magalhães,
testemunha do enriquecimento de seu adversário estadual, até criou um
bordão para propagar os avanços do patrimônio injustificável do
deputado: “Geddel vai às compras“.
Imune, não admitiu e não deixou de se vingar, ainda
que fosse só pela língua maldosa, de qualquer chamado de atenção para
sua atividade. Dou o testemunho pessoal de teimoso ex-processado por Geddel. Derrotado, me mandou como emissário um jornalista de Brasília: dispunha-se a viajar ao Rio, porque “queria um entendimento” comigo. Foi assim que desperdicei mais uma boa oportunidade.
Aécio Neves não diria o mesmo. Disse outras coisas ao seu gosto e proveito. Por exemplo: “Os R$ 2 milhões [recebidos de Joesley Batista] foram um empréstimo“. Ou: “Fui vítima de uma armadilha engendrada por um criminoso confesso de mais de 200 crimes“. Logo, Aécio tinha com o “criminoso confesso”
uma relação íntima, a ponto de a ele recorrer para um empréstimo alto.
Aliás, recebido, embora não como empréstimo, mas como doação pedida.
Joesley Batista não participou da construção, contratada e comandada por Aécio Neves,
da Cidade Administrativa de Minas, obra de grandeza juscelinista. Não
foram necessárias armadilhas para o então governador deixar motivos que
hoje, enfim, fundamentam inquérito sobre subornos e comissões auferidas
das empreiteiras e fornecedores da Cidade.
Até parece coisa de Geddel, mas há 15 anos o caso de Furnas Centrais Elétricas
retém as investigações graças a outras celebridades do ramo. Se houve
armadilha, foi contra os funcionários e os interesses da empresa. O “criminoso confesso“, que é isso mesmo, não estava nessa. Mas o nome de Aécio Neves aparece ao lado de Eduardo Cunha,
em duas apreciáveis condições: bloqueadores das investigações e
principais denunciados pelos desvios. Aécio não se referiu ao caso em
seu recente discurso de defesa no Senado. É, no entanto, um de seus nove inquéritos. Dois estão com Gilmar Mendes, uma garantia. Dos outros, não se sabe se por estarem na Lava afinal estarão também a Jato.
Fonte Pragmatismo Político
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