Não é a primeira vez que esse tipo de informação sobre arapongagem é veiculada, mas o engraçado foi a conduta dos “espiões atrapalhados” no caso denunciado.
Trataram relação de político com ex-namorada como se
fosse um assunto de estado, e emitiram nota fiscal na compra de
equipamentos para grampear “bobó cheira-cheira”. Bem, isto se parece com
um episódio do hilário Agente 86 (Don Adams, 1960), aquele que se
comunicava usando um sapatofone. Me faz
lembrar também dos golpistas, de 1964, que, por um período, desgovernou o
país com uma junta de militares que ficou conhecida como os três
patetas.
RD News
Por Antonio Cavalcante Filho
O episódio dos grampos criminosos em Mato Grosso, projetado e
realizado por agentes públicos pagos com recursos do povo, tem
repercutido mais do que eu imaginava, mas a notícia não surpreende a
quem acompanha, de perto, as relações políticas e de poder nesse meu
Estado varonil. Ora, um político de início de carreira, que se elege por
um partido da base de sustentação de um governo reconhecido
mundialmente por suas políticas de inclusão social (2003-2014), nunca
visto em nossa história, e, de repente, se debanda para o outro lado, o
antissocial, o retrógrado, o das aventuras golpistas e corruptas, vamos
esperar o quê?
Não é a primeira vez que esse tipo de informação sobre arapongagem é
veiculada, mas o engraçado foi a conduta dos “espiões atrapalhados” no
caso denunciado. Trataram relação de político com ex-namorada como se
fosse um assunto de estado, e emitiram nota fiscal na compra de
equipamentos para grampear “bobó cheira-cheira”. Bem, isto se parece com
um episódio do hilário Agente 86 (Don Adams, 1960), aquele que se
comunicava usando um sapatofone. E, como se trata de um crime que
envolve a gestão de um governador que aderiu ao golpe
midiático-parlamentar- judicial, apelidado de impeachment, me faz
lembrar também dos golpistas, de 1964, que, por um período, desgovernou o
país com uma junta de militares que ficou conhecida como os três
patetas.
Do senhor Pedro Taques resta pouco a dizer, apenas repetir que
desvoto (anulo o voto) a confiança nele depositada. Vê-lo envolvido em
mais esse enredo não me impressiona em nada, pois já se tornou um ás em
fazer lambanças e descumprir promessas. Somente em 2016, Taques fez 17
mudanças no seu secretariado e outras tantas em 2017. Lembro que na
campanha ao Senado, em 2010, discursava sobre um “MT 100% roubado”, ao
tratar do “Escândalo dos Maquinários”. Fechadas as urnas, reuniu-se com
um amigo “maggico” para um convescote na fazenda deste, e nunca mais
tocou no assunto das máquinas superfaturadas.
Ficaria surpreso, caso Taques se ajoelhasse numa igreja e pedisse
perdão ao Criador e ao povo mato-grossense pelo incentivo dado ao golpe
que jogou o Brasil numa ribanceira, caminhando de costas para um
precipício, ferindo de morte a democracia. (Enquanto escrevo esse texto
vejo que o índice Bovespa abre em queda de 10%). Me surpreenderia também
se ele tivesse um momento de lucidez e confessasse como se deu a
tramoia na Seduc, e porque os empresários e o ex-secretário tinham tanto
poder. Ficaria abismado se ele explicasse ainda porque transforma um
rico Estado, como Mato Grosso, em um mendigo político, ficando a reboque
do tucanato bandeirante.
Como a minha idade não permite crença em duendes, fico esperando que
Taques cumpra o “restinho de mandato” de governador que, com o meu voto,
o ajudei a conquistar e que saia de cena de fininho, encerrando sua
malograda carreira, sem causar maiores danos do que aqueles que já foram
feitos. A ele não desejo impeachment, ainda que o aprendiz de
feiticeiro tenha praticado coisas bem piores que as “pedaladas” da
presidenta Dilma Rousseff. Uma cassação do governador a essa altura
poderia deflagrar uma crise de governança por aqui, e já basta os
inúmeros problemas que temos no país, que ele, Pedro Taques, com suas
“trapalhadas” contribuiu para criar ao se debandar para as fileiras dos
golpistas corruptos, antipovo e lesa-pátria.
Mas acho justo se Pedro Taques saísse da história política do nosso
Estado pela porta dos fundos, assim como já está acontecendo com o seu
padrinho político que avalizou sua filiação no PSDB, Aécio Neves, o mais
delatado e o mais chato dos propineiros, o usurpador Michel Temer o
maior corrupto da história do Brasil e o achacador da República Eduardo
Cunha, todos eles responsáveis pela destruição da nossa economia, que
deixou milhões de desempregados e que arrasaram a imagem do Brasil no
plano internacional. Mas quem iria cassá-lo? Essa Assembleia de
“caititus” que protegeu José Riva por tanto tempo?
Voltando aos grampos dos atrapalhados (no plural), o que mais me
impressiona é o esquema de grampo “paralelo”, com equipamentos comprados
diretamente pelos espiões hilários, e aqueles outros (da denúncia
levada ao Procurador-Geral da República) que eram feitos mediante ordem
judicial “enxertada”. Nesse caso, os pedidos de grampo foram feitos em
processos de comarcas como Sinop, Cáceres e Cuiabá, e a tática era
inflar a lista dos alvos das escutas.
Há coisas, sobre grampos “por fora”, sem ludibriar juiz para “esquentar”, que ainda virão à tona.
O Tribunal de Justiça reagiu de imediato, auditando todas as
interceptações telefônicas e telemáticas já autorizadas, temendo pelo
pior, mas dando satisfação à sociedade. Outra coisa não poderia se
esperar de pessoas do porte de Rui Ramos e Maria Aparecida Ribeiro,
respectivamente, presidente do TJ e Corregedora-Geral, bons gestores e
excelentes magistrados.
O Ministério Público estadual ainda está patinando, uma vez que o
assunto já havia sido levado ao GAECO (Grupo de Combate ao Crime
Organizado), e nem mesmo a qualidade do “denunciante”, um dos mais
experientes promotores de Justiça do Estado, serviu de motivação para
investigar os potenciais delitos. A bola “quicou” na frente do MP e ele
não chutou para o gol, perdendo uma chance de justificar para a torcida
os altos salários recebidos por seus membros!
Ainda em relação à Assembleia Legislativa, cujo colegiado não tem
produzido muita coisa edificante para a sociedade, no episódio dos
grampos criminosos foi “mais do mesmo”. Ainda que uma deputada estadual
fosse alvo do delito de interceptação criminosa, não se pode esperar
algo decente de um parlamento que passou quase três anos discutindo
inutilmenteo VLT, as obras da Copa do Mundo e os incentivos fiscais, mas
somente jogou para a plateia. Nada de produtivo se viu nesses dois anos
e meio de período legislativo, nenhum resultado tangível.
“Até” a Câmara dos Deputados, onde mais de 60% dos seus parlamentares
têm pendências na Justiça, já instaurou, em Brasília, uma investigação
sobre as graves revelações, e já começa a ouvir os implicados, a começar
pelos bravos denunciantes da grampolândia. É possível que a Comissão
Especial peça o indiciamento dos espiões atrapalhados e talvez se
pronuncie pelo afastamento de agentes políticos.
Acho que os deputados federais devem fazer isso mesmo, porque se
depender das autoridades de Mato Grosso, essa história dos grampos
criminosos se resumirá a condenação de um ou outro “reco”, e o perdão
aos “capos”. A não ser que haja uma delação premiada a caminho.
Antonio Cavalcante Filho é sindicalista e escreve neste espaço às sextas-feiras - E-mail: antoniocavalcantefilho@outlook.com
Fonte RD Nws
ESCUTAS ILEGAIS
O advogado Paulo Taques, primo do governador Pedro Taques, deixou a Casa Civil para defender o primo em processo de grampos
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