domingo, 21 de maio de 2017

UM ESPIÃO MUITO ATRAPALHADO


Não é a primeira vez que esse tipo de informação sobre arapongagem é veiculada, mas o engraçado foi a conduta dos “espiões atrapalhados” no caso denunciado. Trataram relação de político com ex-namorada como se fosse um assunto de estado, e emitiram nota fiscal na compra de equipamentos para grampear “bobó cheira-cheira”. Bem, isto se parece com um episódio do hilário Agente 86 (Don Adams, 1960), aquele que se comunicava usando um sapatofone. Me faz lembrar também dos golpistas, de 1964, que, por um período, desgovernou o país com uma junta de militares que ficou conhecida como os três patetas.




 RD News

Por Antonio Cavalcante Filho 


O episódio dos grampos criminosos em Mato Grosso, projetado e realizado por agentes públicos pagos com recursos do povo, tem repercutido mais do que eu imaginava, mas a notícia não surpreende a quem acompanha, de perto, as relações políticas e de poder nesse meu Estado varonil. Ora, um político de início de carreira, que se elege por um partido da base de sustentação de um governo reconhecido mundialmente por suas políticas de inclusão social (2003-2014), nunca visto em nossa história, e, de repente, se debanda para o outro lado, o antissocial, o retrógrado, o das aventuras golpistas e corruptas, vamos esperar o quê?

Não é a primeira vez que esse tipo de informação sobre arapongagem é veiculada, mas o engraçado foi a conduta dos “espiões atrapalhados” no caso denunciado. Trataram relação de político com ex-namorada como se fosse um assunto de estado, e emitiram nota fiscal na compra de equipamentos para grampear “bobó cheira-cheira”. Bem, isto se parece com um episódio do hilário Agente 86 (Don Adams, 1960), aquele que se comunicava usando um sapatofone. E, como se trata de um crime que envolve a gestão de um governador que aderiu ao golpe midiático-parlamentar-judicial, apelidado de impeachment, me faz lembrar também dos golpistas, de 1964, que, por um período, desgovernou o país com uma junta de militares que ficou conhecida como os três patetas.

Do senhor Pedro Taques resta pouco a dizer, apenas repetir que desvoto (anulo o voto) a confiança nele depositada. Vê-lo envolvido em mais esse enredo não me impressiona em nada, pois já se tornou um ás em fazer lambanças e descumprir promessas. Somente em 2016, Taques fez 17 mudanças no seu secretariado e outras tantas em 2017. Lembro que na campanha ao Senado, em 2010, discursava sobre um “MT 100% roubado”, ao tratar do “Escândalo dos Maquinários”. Fechadas as urnas, reuniu-se com um amigo “maggico” para um convescote na fazenda deste, e nunca mais tocou no assunto das máquinas superfaturadas.

Ficaria surpreso, caso Taques se ajoelhasse numa igreja e pedisse perdão ao Criador e ao povo mato-grossense pelo incentivo dado ao golpe que jogou o Brasil numa ribanceira, caminhando de costas para um precipício, ferindo de morte a democracia. (Enquanto escrevo esse texto vejo que o índice Bovespa abre em queda de 10%). Me surpreenderia também se ele tivesse um momento de lucidez e confessasse como se deu a tramoia na Seduc, e porque os empresários e o ex-secretário tinham tanto poder. Ficaria abismado se ele explicasse ainda porque transforma um rico Estado, como Mato Grosso, em um mendigo político, ficando a reboque do tucanato bandeirante.

Como a minha idade não permite crença em duendes, fico esperando que Taques cumpra o “restinho de mandato” de governador que, com o meu voto, o ajudei a conquistar e que saia de cena de fininho, encerrando sua malograda carreira, sem causar maiores danos do que aqueles que já foram feitos. A ele não desejo impeachment, ainda que o aprendiz de feiticeiro tenha praticado coisas bem piores que as “pedaladas” da presidenta Dilma Rousseff. Uma cassação do governador a essa altura poderia deflagrar uma crise de governança por aqui, e já basta os inúmeros problemas que temos no país, que ele, Pedro Taques, com suas “trapalhadas” contribuiu para criar ao se debandar para as fileiras dos golpistas corruptos, antipovo e lesa-pátria.

Mas acho justo se Pedro Taques saísse da história política do nosso Estado pela porta dos fundos, assim como já está acontecendo com o seu padrinho político que avalizou sua filiação no PSDB, Aécio Neves, o mais delatado e o mais chato dos propineiros, o usurpador Michel Temer o maior corrupto da história do Brasil e o achacador da República Eduardo Cunha, todos eles responsáveis pela destruição da nossa economia, que deixou milhões de desempregados e que arrasaram a imagem do Brasil no plano internacional. Mas quem iria cassá-lo? Essa Assembleia de “caititus” que protegeu José Riva por tanto tempo?

Voltando aos grampos dos atrapalhados (no plural), o que mais me impressiona é o esquema de grampo “paralelo”, com equipamentos comprados diretamente pelos espiões hilários, e aqueles outros (da denúncia levada ao Procurador-Geral da República) que eram feitos mediante ordem judicial “enxertada”. Nesse caso, os pedidos de grampo foram feitos em processos de comarcas como Sinop, Cáceres e Cuiabá, e a tática era inflar a lista dos alvos das escutas.

Há coisas, sobre grampos “por fora”, sem ludibriar juiz para “esquentar”, que ainda virão à tona.

O Tribunal de Justiça reagiu de imediato, auditando todas as interceptações telefônicas e telemáticas já autorizadas, temendo pelo pior, mas dando satisfação à sociedade. Outra coisa não poderia se esperar de pessoas do porte de Rui Ramos e Maria Aparecida Ribeiro, respectivamente, presidente do TJ e Corregedora-Geral, bons gestores e excelentes magistrados.

O Ministério Público estadual ainda está patinando, uma vez que o assunto já havia sido levado ao GAECO (Grupo de Combate ao Crime Organizado), e nem mesmo a qualidade do “denunciante”, um dos mais experientes promotores de Justiça do Estado, serviu de motivação para investigar os potenciais delitos. A bola “quicou” na frente do MP e ele não chutou para o gol, perdendo uma chance de justificar para a torcida os altos salários recebidos por seus membros!

Ainda em relação à Assembleia Legislativa, cujo colegiado não tem produzido muita coisa edificante para a sociedade, no episódio dos grampos criminosos foi “mais do mesmo”. Ainda que uma deputada estadual fosse alvo do delito de interceptação criminosa, não se pode esperar algo decente de um parlamento que passou quase três anos discutindo inutilmenteo VLT, as obras da Copa do Mundo e os incentivos fiscais, mas somente jogou para a plateia. Nada de produtivo se viu nesses dois anos e meio de período legislativo, nenhum resultado tangível.

“Até” a Câmara dos Deputados, onde mais de 60% dos seus parlamentares têm pendências na Justiça, já instaurou, em Brasília, uma investigação sobre as graves revelações, e já começa a ouvir os implicados, a começar pelos bravos denunciantes da grampolândia. É possível que a Comissão Especial peça o indiciamento dos espiões atrapalhados e talvez se pronuncie pelo afastamento de agentes políticos.

Acho que os deputados federais devem fazer isso mesmo, porque se depender das autoridades de Mato Grosso, essa história dos grampos criminosos se resumirá a condenação de um ou outro “reco”, e o perdão aos “capos”. A não ser que haja uma delação premiada a caminho.

Antonio Cavalcante Filho é sindicalista e escreve neste espaço às sextas-feiras - E-mail: antoniocavalcantefilho@outlook.com

Fonte RD Nws


ESCUTAS ILEGAIS 

O advogado Paulo Taques, primo do governador Pedro Taques, deixou a Casa Civil para defender o primo em processo de grampos




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