domingo, 16 de abril de 2017

PREFIRO A DEMOCRACIA


Só poderemos ter paz e ver afastada a hipótese de deflagração de uma guerra civil, se a democracia for rapidamente restabelecida, quando os ditadores da mídia e do sistema de justiça entenderem a alma do brasileiro, e que de fato o povo é que gera a força do poder. Sem o protagonismo popular, o Estado é somente ficção, juiz é só o cara que apita um jogo de futebol marcando um pênalti e legislador é apenas um rábula que não merece ser ouvido. 




Por Antonio Cavalcante Filho 



Aos meus amigos e amigas, que comigo dividem as angústias desses tempos sombrios que vivemos, onde a intolerância e os sentimentos de cólera se sobrepõem aos valores humanitários, onde os discursos de preconceito e de discriminação são até motivos de risos e aplausos, reafirmo minha crença: a democracia é a saída e desejo que ela seja urgentemente restituída ao nosso país. O passo seguinte é debatermos as demais questões que são tão urgentes, como a melhoria das aposentadorias, dos empregos e das instituições, mas isso só pode ser feito com a normalidade democrática.

Confesso também que nos últimos anos lutei muito, com minhas forças e a de meus amigos a mim cedidos em apoio, para que o processo de escolhas eleitorais recaísse sobre os melhores candidatos e candidatas, mas reconheço poucos avanços tangíveis. Os bandidos ainda vencem os mocinhos, a mentira e a falácia ainda enganam a maioria, e os bem-intencionados vêm se abstendo de votar, com medo de serem solidários a governantes incapazes e mentirosos, que se elegem e no dia seguinte rasgam os compromissos firmados.

Em Mato Grosso, até por falta de opção, em 2014, também votei errado.

A todos com quem converso sobre política, sempre relembro que votei em Pedro Taques, que, após eleito, além de bater no peito que apoiava a entrega do Brasil aos golpistas, corruptos e lesa-pátria (medida feita por meio do golpe apelidado de impeachment), o baixinho ainda contempla as estripulias da Assembleia Legislativa (com seus excessos de arrecadação), não resolve as emergências da saúde e das escolas, e divide a gestão com gente que sofre todo tipo de processo no Judiciário. Não satisfeito, transformou o Estado (e não o parafraseio) em cabide de desempregados do ex-prefeito de Cuiabá, e o “Sine do PSDB” tem quase 4 mil cargos comissionados.

Mas sigamos “desvotando” (revogando o mandato de quem elegemos).

O que ocorre no Brasil é diferente dos demais países latino-americanos e mesmo os nossos conflitos diferem do vivenciado pelos EUA e Europa. Aqui chegamos a ser a 5ª economia do mundo, mas o golpe veio para nos deixar reféns dos ianques e a bandidagem está entregando nossas riquezas.

O pré-sal, que destinaria 70% dos lucros do petróleo para aplicar na educação pública, agora não é mais nosso, graças aos entreguistas (com as bênçãos da Lava Jato) tudo o que é do povo está sendo passado para as petroleiras multinacionais.

O Brasil, que na última década viu 29 milhões de cidadãos ascenderem à classe média, hoje ouve o governo ilegítimo dizer que há um rombo de R$ 150 bilhões no sistema de Previdência e revelar o seu desejo perverso de deixar nossos idosos sem o benefício da aposentadoria. Só que os golpistas não cobram os bancos e empresas que devem meio bilhão de reais ao sistema, a “elite” perdoa os seus.

Somente num julgamento feito pelo Supremo Tribunal Federal, na última semana, tratando sobre a contribuição do FUNRURAL, as empresas foram condenadas a pagar cerca de R$ 7 bilhões que foram sonegados. Isso quer dizer que pessoas humildes trabalhavam para os latifundiários, que não recolhiam a contribuição, mas os trabalhadores se aposentaram e recebiam dos cofres públicos.

O engraçado é que os crimes contra a Previdência, que revelam a sonegação de impostos, a entrega de bens nacionais aos estrangeiros, não revoltam a elite coxinha. As panelas só batem quando se fala em oferecer benefícios aos empobrecidos como o Bolsa Família, o FIES, o PROUNI e o Mais Médicos. Interessante dizer que cerca de 33 milhões de pessoas foram atendidos por esse programa de levar médicos para as cidades interioranas, que permitiu que pequenas localidades finalmente recebessem um profissional dessa área.

Mas, além de acabar com o benefício do Mais Médicos, congelando os investimentos públicos em escolas e postos de saúde durante 20 anos, o golpe vai acabar com a Farmácia Popular, programa federal que fornecia gratuitamente os medicamentos de uso contínuo.

Como dizia o antropólogo Darcy Ribeiro, o problema do Brasil é a sua elite, sua formação, o desejo de ter os benefícios apenas para si, resultando em miséria e tristeza para a maioria de nossos irmãos (que não são da classe dominante). O economista John Maynard Keynes, ídolo coxinha, dizia que as obras e serviços públicos são interessantes motores da economia dos países. Segundo ele, que já dirigiu o Banco Central estadunidense, o governo deve distribuir riqueza na forma de serviços sociais, e as obras públicas (construção de pontes, escolas e hospitais) são fundamentais para o aquecimento das relações capitalistas e distribuição de riquezas.

Quero mais democracia, quero mais distribuição de renda, quero respeito e tolerância às diferenças e divergências. Não quero o meu país nas mãos dos nazi-doidos que saem por aí dizendo: “Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Nem pra procriador ele serve mais”, ou ainda: “Eu tenho 5 filhos. Foram 4 homens, a quinta eu dei uma fraquejada e veio uma mulher”.

Mas só poderemos ter paz e ver afastada a hipótese de deflagração de uma guerra civil, se a democracia for rapidamente restabelecida, quando os ditadores da mídia e do sistema de justiça entenderem a alma do brasileiro, e que de fato o povo é que gera a força do poder. Sem o protagonismo popular, o Estado é somente ficção, juiz é só o cara que apita um jogo de futebol marcando um pênalti e legislador é apenas um rábula que não merece ser ouvido.

Antonio Cavalcante Filho, escreve suas angústias neste blog às sextas-feiras. E-mail: antoniocavalcantefilho@outlook.com

Fonte RD News


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