Só poderemos ter paz e ver afastada a hipótese de deflagração de uma guerra civil, se a democracia for rapidamente restabelecida, quando os ditadores da mídia e do sistema de justiça entenderem a alma do brasileiro, e que de fato o povo é que gera a força do poder. Sem o protagonismo popular, o Estado é somente ficção, juiz é só o cara que apita um jogo de futebol marcando um pênalti e legislador é apenas um rábula que não merece ser ouvido.
Por Antonio Cavalcante Filho
Aos meus amigos e amigas, que comigo dividem as angústias desses
tempos sombrios que vivemos, onde a intolerância e os sentimentos de
cólera se sobrepõem aos valores humanitários, onde os discursos de
preconceito e de discriminação são até motivos de risos e aplausos,
reafirmo minha crença: a democracia é a saída e desejo que ela seja
urgentemente restituída ao nosso país. O passo seguinte é debatermos as
demais questões que são tão urgentes, como a melhoria das
aposentadorias, dos empregos e das instituições, mas isso só pode ser
feito com a normalidade democrática.
Confesso também que nos últimos anos lutei muito, com minhas forças e
a de meus amigos a mim cedidos em apoio, para que o processo de
escolhas eleitorais recaísse sobre os melhores candidatos e candidatas,
mas reconheço poucos avanços tangíveis. Os bandidos ainda vencem os
mocinhos, a mentira e a falácia ainda enganam a maioria, e os
bem-intencionados vêm se abstendo de votar, com medo de serem solidários
a governantes incapazes e mentirosos, que se elegem e no dia seguinte
rasgam os compromissos firmados.
Em Mato Grosso, até por falta de opção, em 2014, também votei errado.
A todos com quem converso sobre política, sempre relembro que votei
em Pedro Taques, que, após eleito, além de bater no peito que apoiava a
entrega do Brasil aos golpistas, corruptos e lesa-pátria (medida feita
por meio do golpe apelidado de impeachment), o baixinho ainda contempla
as estripulias da Assembleia Legislativa (com seus excessos de
arrecadação), não resolve as emergências da saúde e das escolas, e
divide a gestão com gente que sofre todo tipo de processo no Judiciário.
Não satisfeito, transformou o Estado (e não o parafraseio) em cabide de
desempregados do ex-prefeito de Cuiabá, e o “Sine do PSDB” tem quase 4
mil cargos comissionados.
Mas sigamos “desvotando” (revogando o mandato de quem elegemos).
O que ocorre no Brasil é diferente dos demais países
latino-americanos e mesmo os nossos conflitos diferem do vivenciado
pelos EUA e Europa. Aqui chegamos a ser a 5ª economia do mundo, mas o
golpe veio para nos deixar reféns dos ianques e a bandidagem está
entregando nossas riquezas.
O pré-sal, que destinaria 70% dos lucros do petróleo para aplicar na
educação pública, agora não é mais nosso, graças aos entreguistas (com
as bênçãos da Lava Jato) tudo o que é do povo está sendo passado para as
petroleiras multinacionais.
O Brasil, que na última década viu 29 milhões de cidadãos ascenderem à
classe média, hoje ouve o governo ilegítimo dizer que há um rombo de R$
150 bilhões no sistema de Previdência e revelar o seu desejo perverso
de deixar nossos idosos sem o benefício da aposentadoria. Só que os
golpistas não cobram os bancos e empresas que devem meio bilhão de reais
ao sistema, a “elite” perdoa os seus.
Somente num julgamento feito pelo Supremo Tribunal Federal, na última
semana, tratando sobre a contribuição do FUNRURAL, as empresas foram
condenadas a pagar cerca de R$ 7 bilhões que foram sonegados. Isso quer
dizer que pessoas humildes trabalhavam para os latifundiários, que não
recolhiam a contribuição, mas os trabalhadores se aposentaram e recebiam
dos cofres públicos.
O engraçado é que os crimes contra a Previdência, que revelam a
sonegação de impostos, a entrega de bens nacionais aos estrangeiros, não
revoltam a elite coxinha. As panelas só batem quando se fala em
oferecer benefícios aos empobrecidos como o Bolsa Família, o FIES, o
PROUNI e o Mais Médicos. Interessante dizer que cerca de 33 milhões de
pessoas foram atendidos por esse programa de levar médicos para as
cidades interioranas, que permitiu que pequenas localidades finalmente
recebessem um profissional dessa área.
Mas, além de acabar com o benefício do Mais Médicos, congelando os
investimentos públicos em escolas e postos de saúde durante 20 anos, o
golpe vai acabar com a Farmácia Popular, programa federal que fornecia
gratuitamente os medicamentos de uso contínuo.
Como dizia o antropólogo Darcy Ribeiro, o problema do Brasil é a sua
elite, sua formação, o desejo de ter os benefícios apenas para si,
resultando em miséria e tristeza para a maioria de nossos irmãos (que
não são da classe dominante). O economista John Maynard Keynes, ídolo
coxinha, dizia que as obras e serviços públicos são interessantes
motores da economia dos países. Segundo ele, que já dirigiu o Banco
Central estadunidense, o governo deve distribuir riqueza na forma de
serviços sociais, e as obras públicas (construção de pontes, escolas e
hospitais) são fundamentais para o aquecimento das relações capitalistas
e distribuição de riquezas.
Quero mais democracia, quero mais distribuição de renda, quero
respeito e tolerância às diferenças e divergências. Não quero o meu país
nas mãos dos nazi-doidos que saem por aí dizendo: “Eu fui num quilombo.
O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Nem pra procriador
ele serve mais”, ou ainda: “Eu tenho 5 filhos. Foram 4 homens, a quinta
eu dei uma fraquejada e veio uma mulher”.
Mas só poderemos ter paz e ver afastada a hipótese de deflagração de
uma guerra civil, se a democracia for rapidamente restabelecida, quando
os ditadores da mídia e do sistema de justiça entenderem a alma do
brasileiro, e que de fato o povo é que gera a força do poder. Sem o
protagonismo popular, o Estado é somente ficção, juiz é só o cara que
apita um jogo de futebol marcando um pênalti e legislador é apenas um
rábula que não merece ser ouvido.
Antonio
Cavalcante Filho, escreve suas
angústias neste blog às sextas-feiras. E-mail:
antoniocavalcantefilho@outlook.com
Fonte RD News
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