segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

FIASCO DA MANIFESTAÇÃO EM DEFESA DA LAVA A JATO EM BRASÍLIA


A manifestação acabou da mesma forma que teve início, vazia e melancólica. Para quem observava tudo de fora como eu, algumas cenas não deixavam de ser ilárias como a de uma senhora que fazia coraçãozinho com as mãos para os policiais militares. Pensando bem, para quem não tem problema em passar vergonha, até que foi um bom programa de domingo. 





Por Carlos Fernandes

A manifestação em defesa da Lava Jato e contra as mudanças no pacote anticorrupção realizada na Esplanada dos Ministérios na manhã deste domingo (4), pode ser resumida em apenas duas palavras: monumental fiasco.

Segundo a PM – sempre condescendente com esse tipo de movimento – havia cerca de 5 mil pessoas. Para os organizadores – sempre descolados da realidade – seriam em torno de 15 mil.  Um devaneio como tudo que lhes diz respeito.

De qualquer forma, por mais inflado que possa ter sido, o número de participantes não chegou a 10% dos verificados nas manifestações anteriores, quando Dilma e o PT eram os alvos de seus impropérios.

Mais do que um fato estatístico, o esvaziamento das manifestações “contra a corrupção” e pela “moralização da política brasileira” desnuda o cerne dos interesses envolvidos a depender de quem está no alvo dos “patriotas”.

Sem os valiosos financiamentos dos partidos políticos de direita e demais beneficiários diretos do impeachment, os movimentos “apartidários” perderam significativamente o seu poder de manobra sobre os seus midiotizados.

Na esteira da vez, Rodrigo Maia, presidente da Câmara e, principalmente, Renan Calheiros, presidente do Senado, outrora queridos por defenderem abertamente a saída de Dilma, se viram agora como os principais malfeitores da República.

Acusados de atentarem contra a operação Lava Jato e as 10 medidas anticorrupção (como se isso não já fosse evidente há meses), os dois foram banidos da lista de parlamentares que ainda servem à causa coxinha.

No mais, mais do mesmo. O juiz Sérgio Moro foi endeusado no lugar que já pertenceu a Joaquim Barbosa, ao japonês da Federal e aos demais heróis de ocasião que a mídia adora criar e depois descartar ao seu bel prazer.

Os pró intervenção militar, é claro, não poderiam faltar. Tentei conversar com eles mas diante das primeiras gotas de chuva que jogou um balde de água fria nos manifestantes, os destemidos defensores da moral e dos bons costumes bateram em retirada.

Sobrou o já folclórico personagem que considera salutar ir a uma manifestação que se diz em defesa da soberania brasileira fantasiado de Barack Obama. Com direito a faixa presidencial nas cores da bandeira americana.

Questionei o porquê dele vir a um evento daquela natureza vestido assim. Me disse, orgulhoso, que seria uma forma de chamar a atenção do mundo para o que estava acontecendo no país. No seu entendimento, seria o presidente dos Estados Unidos, e não o do Brasil, o político com a capacidade internacional de dar visibilidade ao movimento.  Dada a mediocridade do nosso atual presidente, não está de todo errado.

E por falar em mediocridade, não houve qualquer faixa, discurso ou sequer menção a Michel Temer. O cidadão foi mais uma vez completamente ignorado. Porém, se em Chapecó o desprezo dado a ele se deu por um ato de grandeza do povo daquela cidade em respeito aos seus mortos, por aqui, o silêncio era de vergonha mesmo.

Dono de uma equipe ministerial afundada em corrupção, responsável pelo aprofundamento da crise econômica e social e sem qualquer legitimidade internacional, os ditos independentes preferiram não tocar no assunto.

A manifestação acabou da mesma forma que teve início, vazia e melancólica. Para quem observava tudo de fora como eu, algumas cenas não deixavam de ser ilárias como a de uma senhora que fazia coraçãozinho com as mãos para os policiais militares.

Pensando bem, para quem não tem problema em passar vergonha, até que foi um bom programa de domingo.



Saiba mais


O anti-protesto coxa é a melhor forma de manter as coisas como estão. 




Diário do Centro do Mundo

O mercado dos protestos verde-amarelos parece ensaiar uma retomada do crescimento.

Se desde o impeachment de Dilma, grupos como Revoltados On Line, Vem pra Rua, MBL pareciam ter perdido a razão de ser, nesse domingo conseguiram uma espécie de renovação.

Ao perder o seu principal produto, o impeachment, ainda não haviam encontrado um outro para colocar na prateleira e se reposicionar no mercado.

Não podiam colocar seu aliado Michel Temer no lugar de Dilma, nem mesmo Eduardo Cunha, e nesse vácuo deixado pela saída da presidenta eleita e do gangster, eis que caiu como uma luva Renan Calheiros e seus 12 processos.

É claro que o ódio coxa ao presidente do Senado não é tão inflamável como o ódio contra um petista, mas já quebra um galho, e Renan foi a grande novidade apresentada. 

O filósofo esloveno Zizek diz que é sempre necessário à ideologia um vilão para reunir todos os medos e angústias, e ficou difícil manter Lula como esse único vilão, sendo que ele não participa desse governo. 

Já Moro também precisa permanentemente de um antagonista forte para continuar merecedor dos holofotes e da trajetória do herói.

E os coxas, bom, os coxas precisam de um herói, de um vilão e de uma ideologia. 

Precisam acreditar que compreenderam, e que sabem o que precisa ser feito. Primeiro tirar a Dilma, depois Cunha, agora Renan… e assim indefinidamente. 

É claro que há os mais radicais, que já não acreditam nesse jogo, e tem certeza de que só mesmo fechando o Congresso, e com o poder entregue outra vez aos militares. 

No Rio de Janeiro, um desses apoiadores da intervenção militar, com o microfone na mão gritava que prender não é suficiente. “É preciso matar, cortar em pedaços e jogar num saco de lixo”. A pequena multidão em volta aplaudia ou parecia não se importar o suficiente em estar do lado de um assassino. 

Mas o fato é o que o capitalismo pode vender tudo, inclusive kits de monstruosidade, e os protestos coxa são mais uma mercadoria. 

Um produto que promete fazer de você alguém engajado, preocupado com a pátria, em defesa da moral e da ordem. 

Um produto que também lhe garante certo status, uma noção de pertencimento à elite que financia esses protestos – vide o pato da FIESP. 

Mas talvez “protesto” não seja a melhor palavra para definir esse produto. Parece mais um anti-protesto, uma forma pacífica e ordeira de manter as coisas exatamente como estão.

Fonte Diário do Centro do Mundo

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